Trabalho de estreia do cantor traz show intimista e interpretação expansiva
Intérprete de voz potente e emoção solta, Diego Moraes estreia com DVD e CD ao vivo gravado no estúdio Na Cena, em São Paulo. O álbum Meus ídolos, pela EMI, apresenta o artista de Campinas com sua carta de apresentação formatada e repertório de grandes compositores.
Diego apareceu em um programa de TV que promete forjar um ídolo. Link com a exposição televisiva, seu primeiro trabalho mostra justamente quem são os ídolos do cantor. Aí o rapaz, de 24 anos, desfila boas referências como Rita Lee, Gilberto Gil, Herbert Vianna, Chico Buarque, Cartola e outros compositores campeões com tiros certeiros. Parte do repertório, assim como a banda, vem da temporada 2009 do programa Ídolos, da Rede Record, onde ele chamou atenção do público.
Cantor forte, Diego não está para interpretações leves. O ambiente intimista do estúdio é preenchido por sua voz e uma boa banda apresentando arranjos em tons de jazz. No repertório de seus ídolos Diego não arrisca muito fora do óbvio. Exceção (e nobre) quando busca no grupo carioca 4 Cabeça a balada Lembrei, de Maurício Baia e Gabriel Moura. Das pouquíssimas pistas de uma carreira arejando repertório próprio é o balanço Muderno, despretensiosa composição do próprio Diego com letra bem humorada: "Trabalho o ano inteiro / Mas a minha grana não dá nem pro cheiro".
Ainda no bloco das menos badaladas, Diego canta Talismã sem par e anuncia como uma composição inédita de Jorge Vercillo. Mas a música já foi gravada e até chegou a tocar em rádios populares em 2004 com o cantor Marcos Assumpção, que acaba de regravar em seu primeiro DVD, a ser lançado no próximo mês. Engano de lado, é boa balada com a marca radiofônica dos primeiros trabalhos de Vercillo. Não por acaso, é a faixa escolhida para divulgação do trabalho de Diego.
As interpretações pecam justamente pelo excessos vocais, que o cantor não poupa, soando especialmente visceral em Explode coração. A excelente versão do sucesso de Gonzaguinha vai muito bem, até crescer e soar exagerada no seu último verso. A mesma fórmula é muito usada ao longo do disco. Quando foge, cria emocionantes momentos como na corajosa releitura de Atrás da porta, que deixa a certeza de que é um grande cantor.
Outro bom momento fica com As rosas não falam quando Diego canta estrategicamente sentado ao pé de um poste cênico. Ao piano, o cantor se acompanha em Meu erro, de Herbet Vianna. É gracioso o dueto com a delicada Tais Reganelli em Uma canção só (pra você). Mas quando entra Paula Lima, com ares de diva, em Partido alto o clima esquenta mesmo em um samba de pegada leve. Muito bom, aliando soul, samba e emoção.
Apesar do repertório ser formado por músicas muito marcadas por seus intérpretes, Diego não procura caminho fácil de covers. O cantor trilha caminhos próprios, dividindo com a banda a responsabilidade pelos arranjos. Abrindo o disco, a releitura para Punk da periferia tira o ar rock da música. Não é ruim, mas perde em comparação com a original de Gil. Já quando coloca sal jazz e balanço na balada Como uma onda, de Lulu Santos, se sai bem melhor imprimindo boas novidades. A recriação também funciona muito bem no clássico mutante Ando meio desligado, que ganhou inesperada levada jazzy com suingue e também para a corajosa releitura de Canto de Ossanha.
Diego é filho da televisão. Visual criado, caras, poses e bocas bem ensaiadas para sair bem no vídeo. Falta uma boa dose de personalidade e de jogo de cintura. Tudo é muito certinho, dirigido e milimetricamente ensaiado. Fica a expectativa de que no próximo trabalho o cantor esteja mais solto e à vontade com sua interpretação potente. Material vocal e coração pulsante ele já tem.
Fonte: Ziriguidum.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário